Beijo

A dúvida é a maior doença do homem. A incerteza é seu maior sintoma. Tanto é plausível a esperança quanto se aflige do desespero.

Quando o sol nasceu, era nisso que eu pensava. E quando o sol se pôs, ainda pensava nisso. Foi uma aurora preguiçosa e um crepúsculo sangrento. O processo, porém, é o que me faz hoje refletir.

A melhor sensação do mundo é a de que ainda há alguma chance. Ainda se pode lutar.  Ainda se pode vencer.  Um novo fôlego injetado em seus pulmões com um beijo. O ato é pequeno, rápido, sutil, espontâneo – e pode mudar tudo. Ou não mudar nada. Dualidade.

E assim o ímpeto se instaurou. Covardes não voltam para casa. Portanto, instaurou-se também o desespero. Felino, se aloja confortavelmente enquanto meus sentimentos fazem estardalhaço. Olha dentro da minha alma e me lembra do meu pecado primordial.

Quanto à minha companheira, saiba que fomos amantes entre as fases deste ciclo. Fomos amigos, e até fomos companheiros.

Agora, entretanto, o toque dos nossos lábios é a lembrança, o saudosismo. O que restou de nós foi a dúvida. Ou será que nós é que restamos da dúvida?

Ela se aproxima, naquele trôpego ritmo, aproximando seu corpo do meu.  E os bigodes do gato do desespero se contorcem enquanto ele sorri.  Meu sono se vai.

Com um beijo, tiram eles todas as mínimas possibilidades e me abandonam cheio de nada.

De certa forma, isso é bom.

Agora posso me preencher com o que quiser.

 

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